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Jardins Verticais

Eu atendo muitas pessoas que desejam ter jardins verticais em casa, mas na maioria dos casos os clientes não conhecem detalhes importantes. Vamos ver isso agora.

Foto de capa: Escritório Patrick Blanc. Foto por Patricia Parinejad - countryandtownhouse.co.uk/interiors/small-gardens/

Um breve histórico

Jardins verticais estão na moda. Novas tecnologias tornaram os jardins verticais cada vez mais acessíveis e cada vez mais “faça você mesmo”. Mas não são exclusivos da atualidade. Há registros históricos que fazem referências a jardins verticais rudimentares desde 600 anos AC.

Mas a conversa ficou mais densa sobre o assunto a partir do século 20, em que varias técnicas foram se acumulando para verticalizar os jardins, principalmente nos centros urbanos. No Brasil temos Burle Marx como um dos pioneiros mais consistentes no tema, que projetou jardins em paredes rochosas e totens metálicos, utilizando bromélias, samambaias e outras plantas.

Foto: Arquivo arq. https://www.arquivo.arq.br/banco-safra

A tecnologia passou a se concentrar no tema depois que o botânico francês Patrick Blanc projetou e patenteou um jardim vertical capaz de simular com sucesso as encostas tropicais e subtropicais com plantas capazes de se desenvolver e reproduzir nesse ambiente. Foi a partir dessa tecnologia que surgiu tudo o que conhecemos hoje em jardins verticais.

Tipos de jardins verticais

Existem diferentes técnicas para criar um jardim vertical. Cada empresa especializada tem sua tecnologia de preferência, ou ainda o tipo de jardim vertical será definido pelas características do ambiente e do projeto. Vamos pincelar um pouco as 3 mais populares.

Jardim vertical em bloco cerâmico

Esse estilo de jardim vertical conta com blocos cerâmicos que se parecem com um tijolo baiano especial para acomodar as mudas.

Os blocos são assentados na parede de alvenaria e recebem uma pintura para dar acabamento, podendo também receber revestimento para integrar a estrutura ao estilo da parede.

Os blocos cerâmicos podem ser leves individualmente, mas representam um dos materiais com maior peso por metro quadrado.

Jardim vertical em feltro

O jardim vertical de feltro se dá a partir de placas modulares de plástico recoberto com feltro (imputrescível e de alta densidade), dotado de bolsos que receberão as mudas. A medida que as plantas crescem nos bolsos de feltro, as raízes se entrelaçam ao tecido e permitem maior desenvolvimento e fixação para as plantas.

O feltro pode ser danificado com o passar dos anos (principalmente pelo esgarçamento causado pelo desenvolvimento das plantas), o que exige manutenção especializada para substituir as placas, caso necessário.

A irrigação feita nesse sistema geralmente funciona com a água molhando e escorrendo por todo o feltro, sendo necessário um bom trabalho de captação e drenagem do excesso de água.

As placas de feltro podem ser cultivadas antes de montar o jardim vertical ou podem receber as mudas na ocasião da instalação do jardim.

Foto de Inhabitat. https://bit.ly/2D26xVe

Jardim vertical em grade metálica

Esse sistema é um dos mais simples e práticos de instalar. Basta fixar na parede previamente impermeabilizada uma grade de metal (malha pop) que dará suporte a módulos plásticos (vasos meia lua ou vasos plásticos especiais para jardim vertical).

Esse sistema também permite fácil manutenção e substituição das plantas, já que basta retirar um vaso, trocar a planta e voltar com o vaso no lugar. Apesar da praticidade este é um sistema de custo elevado, por conta do custo unitário dos vasos de plástico. (Foto: Gro-Wall, https://bit.ly/2OY0zcI)

Irrigação

Um jardim vertical sem irrigação é inviável. Dependendo do tamanho (acima de 5m²) fica impraticável irrigar todos os vasos ou todos as linhas de plantas. Por isso, pensar em jardim vertical é pensar em irrigação automatizada.

Há diversos sistemas de irrigação automatizada, sendo que os controladores, peças centrais dos sistemas automáticos, podem ser analógicos ou digitais (bateria ou ligados à rede de energia). Alguns equipamentos podem ser facilmente adquiridos em mega lojas de materiais de construção ou mesmo pela internet, e outros são apenas distribuídos por empresas especializadas.

O acesso aos materiais de irrigação é facilitado, mas será que a instalação e funcionalidade dos materiais é tão tranquila assim? Nem tanto. É preciso ter conhecimento em hidráulica e irrigação, já que há conceitos específicos sobre pressão ideal de água, vazão, perda de carga, entre outros aspectos. Não adianta montar um jardim vertical super completo e depois perceber que a rede de água não tem pressão suficiente para levar água para todos os gotejadores.

Adubação

Um jardim vertical possui uma quantidade limitada de substrato para as plantas. Isso significa que a adubação será necessária para garantir a reposição de nutrientes desse ambiente artificial.

Para fazer a adubação das plantas é realizada a técnica da fertirrigação, que consiste em injetar fertilizante líquido no sistema irrigação, com um produto compatível com o equipamento para não causar entupimento de mangueiras e bicos gotejadores.

Vegetação

Foto: Habitat Horticulture. https://bit.ly/2D4N2eB

Ficamos encantados com aquelas fotos de revistas com jardins verticais cheios de samambaias e costelas de Adão. Mas como qualquer jardim, um jardim vertical também precisa ser montado com vegetação compatível ao tipo de iluminação. Pense comigo: um jardim vertical junto de uma piscina que recebe sol o dia inteiro não é um ambiente ideal para colocar plantas de sombra, não é mesmo? Mas esse é um dos equívocos mais comuns no mercado. E os bastidores de muitas fotos lindas de revista são manutenções frequentes de troca de plantas só porque foram escolhidas de maneira errada.

Outro fator importante a considerar é o tipo de crescimento da planta e o porte, de modo que sejam compatíveis com o tipo de estrutura do jardim vertical. Uma planta que cresce muito e produz grande massa de folhas largas pode não ser a mais indicada para ser plantada em um vaso plástico limitado se for usado o sistema de grade metálica.

Preço

O preço final de um jardim vertical é algo que pode variar enormemente, conforme o tipo de estrutura, vegetação, sistema de irrigação, soluções específicas, entre outros elementos.

De modo bem geral, no mercado podemos encontrar jardins verticais com custo entre 800 a 1700 reais por metro quadrado.

Pois é, não é um investimento exatamente barato, mas como você acompanhou o texto com atenção já percebeu que um jardim vertical possui um monte de elementos custosos, além da especialidade técnica para a montagem.

Há outras formas mais econômicas para cobrir uma parede com verde, como o uso de trepadeiras e treliças. Mas se você procura por um jardim vertical e o custo for compatível com suas expectativas investimento, o efeito é realmente elegante.

Palavra do especialista

Para complementar a discussão, convidei um amigo especialista em jardins verticais. O nome dele é Murilo Cruciol, é biólogo e mestrando em Arquitetura e Urbanismo, com projeto de pesquisa em jardins verticais. Ele também trabalha na empresa Eneida Lima Paisagismo, em Bauru, tendo bastante experiência no assunto.

Fiz algumas perguntas para ele, vamos conferir:

Qual é a frequência média de manutenção de um jardim vertical?

Depende do tamanho, das espécies utilizadas e do tipo de jardim vertical. Costumamos fazer manutenção bimestral na maioria dos nossos jardins. Mas quanto maior a estrutura, mais atenção é necessária quanto a pragas e doenças e, principalmente, quanto a irrigação. A manutenção do jardim vertical verifica também se o sistema de irrigação está funcionando perfeitamente, se não está entupido ou com falhas. A fachada verde, que usa trepadeiras (e que também é um tipo de jardim vertical), é um jardim que demanda uma manutenção diferente, como se estivesse criando uma tapeçaria, na minha opinião. Pois você tem que direcionar os ramos novos nas estruturas de suporte como linhas formando um tapete.

Quais são os problemas mais frequentes de um jardim vertical?

Irrigação (para mais ou para menos), escolha errada de espécies, e pragas (principalmente nos jardins verticais internos). Esses três problemas levam a mortalidade de plantas, necessidade de trocas ou, mesmo que não ocorra a morte das mudas, uma perda da qualidade estética.

O que é necessário para ter um jardim vertical na área interna de um apartamento?

Primeiro é ver a situação da parede para escolher a melhor estrutura.

Segundo: como será feita a irrigação? Tem ponto de água próximo? Se não tiver, como solucionamos? Quebramos a parede para puxar um ponto d'água ou fazemos o jardim em circuito fechado.

Terceiro: tem ralo para drenar o excesso de água?

Quarto: é necessário ter iluminação. Se não for possível a natural, então precisamos instalar um sistema de iluminação apropriada para o cultivo de plantas (não vale a dicroica, já bem conhecida).

Quinto: escolher adequadamente as espécies de acordo com as condições de luminosidade e ventilação do local.

Qualquer planta herbácea pode compor um jardim vertical?

Depende da estrutura. Tem tecnologias cujo módulo de plantio é muito raso, prejudicando o desenvolvimento da muda e fazendo com que ela não fique bonita por muito tempo. Geralmente utilizamos espécies com porte pequeno, forrações, epífitas, pendentes, samambaias, etc..

O que as pessoas que estão pensando em instalar um jardim vertical deveriam saber antes de contratar o serviço?

Que o jardim vertical é um ecossistema vivo. Ele precisa de água, nutrientes e cuidados para funcionar. E precisa ser executado por pessoas que têm conhecimento sobre isso. Que sabem solucionar questões como impermeabilização, irrigação, drenagem e que entendam sobre as diferentes estruturas que temos hoje no mercado. Um item que faltou nas questões acima: a impermeabilização da parede que vai receber o jardim vertical é importantíssima.

 

Jardim vertical não é algo apenas bonito, é também pura ciência e conhecimento técnico.

Se você busca ter um jardim vertical em seu espaço, já sabe o que considerar.

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