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BÁSICO DA ENXERTIA

Geralmente quando pegamos algum livro sobre horticultura vemos a enxertia como uma técnica dentro do conteúdo de propagação, mas essa não é uma prática de propagação propriamente dita.



A enxertia serve para que a gente possa pegar um ramo de uma planta e “implantar” no caule de outra planta, fundindo essas duas partes. Vamos imaginar que temos duas plantas, a ´planta A e a planta B. Nosso interesse na planta A é nos frutos, e nosso interesse na planta B é nas raízes. A planta A tem frutos mais precoces, mais doces e carnosos que a planta B. Mas a planta B tem raízes mais resistentes a pragas e doenças, apesar de seus frutos serem pequenos e amargos. Quando a gente enxerta a planta A na planta B, temos o melhor dos dois mundos. Esse é o intuito da enxertia.


Ou por exemplo, temos uma jabuticabeira sabará. As sementes dessa jabuticabeira foram todas germinadas, dando várias mudinhas de jabuticaba. Mas é sabido que as jabuticabeiras podem demorar até 20 anos para frutificar quando crescem de sementes. Sendo assim, pegamos as mudas germinadas e enxertamos ramos de uma jabuticabeira já produzindo. Dessa forma vamos ter muitas mudas capazes de produzir jabuticabas desde cedo!


A técnica da enxertia consiste em 3 etapas: o preparo do cavalo e do cavaleiro (também chamados de porta-enxerto e enxerto, respectivamente); a junção das partes; e o curativo.


1. Preparo do cavalo e do cavaleiro: Essa parte deve ser feita com ramos herbáceos, por serem mais maleáveis. Se fizemos a enxertia em ramos lenhosos, a tendência é de que lasquem, o que pode dificultar o curativo e reduzir as chances de pegamento. Usamos um estilete, canivete, bisturi ou mesmo cortador de unhas, para cortar a parte aérea do cavalo. Afinal, só queremos as raízes e a base do caule. Depois selecionamos os ramos que formarão o cavaleiro, e esses ramos deverão ser de MESMO CALIBRE que o cavalo. Selecionados os ramos que serão cavaleiros, fazemos um corte em “V”, tipo ponta de flecha no cavaleiro. Em seguida fazemos um corte em “I” no cavalo, para poder encaixar o cavaleiro. Essa operação tem que ser rápida, já que nem o corte do cavalo, nem do cavaleiro, podem secar. O jeito certo de fazer leva tempo para ser dominado, e a pressa sem experiência é o fator que mais causa acidentes com o canivete. Por isso, toda calma e cuidado do mundo. Não tem problema falhar algumas vezes antes de pegar o ritmo. Essa é a etapa que mais dá errado, então tudo bem. (Na foto utilizei apenas como exemplo um ramo de coléus. Não é um processo de fato de enxertia, mesmo porque a espessura do ramo é incompatível com o sucesso da operação, como vamos falar mais adiante).


2. Junção das peças: Juntas o cavalo com o cavaleiro é algo que deve ser feito rapidamente, mas com cuidado. Se a união for feita com muita força, o cavalo pode lascar no meio do corte. Se o cavaleiro não for introduzido direito, poderá tombar ou os vasos condutores de seiva não vão se fundir.


3. Curativo: O curativo deve ser feito rapidamente após a união do cavalo com o cavaleiro. Esse curativo pode ser feito com diferentes materiais. O objetivo do curativo é manter essa região de ferimento protegida, para que não entre água ou poeira, para cicatrizar o mais rápido possível. O produto mais utilizado são fitas plásticas para enxertia. É fácil de encontrar em casas de produtos agropecuários. Essa fita é enrolada ao redor da união, enrolando também de 1 a 2cm para cima e para baixo do corte. É como um “veda-roscas”. Lembre-se, você quer proteger o corte. Você sabe que é hora de tirar a fita quando o ramo enxertado já cresceu uns 5 a 10cm e está visivelmente saudável. Outros materiais usados são o filme plástico de alimentos, sacos plásticos recortados ou até palha (não recomendo).


No contexto da enxertia existem variações de técnicas, envolvendo diferentes partes das plantas e com nomes distintos, como borbulhia (enxertia de gemas), encostia, encostia de topo ou garfagem inglesa simples (união do corte reto de dois ramos), encostia lateral (fatia-se a lateral de dois ramos que são unidos para se fundirem), entre outros. A prática da enxertia de cavalo-cavaleiro é chamada de “garfagem”, já que o cavaleiro entra no cavalo como se fosse um “garfo” fazendo um furo.


Uma ferramenta legal para considerar é o alicate de enxertia. Esse alicate faz o corte direitinho, preparando já o cavalo e o cavaleiro. Mas essa ferramenta tem uma desvantagem: ela só funciona para ramos de um calibre específico (em torno de 0,7 a 1cm de espessura). Ramos mais finos ainda vão precisar do processo usando um estilete.

Para que o alicate de enxertia funcione bem, ele vai precisar estar sempre afiado e higienizado. Um alicate de enxertia cego irá “mastigar” o corte e os vasos condutores de seiva serão dilacerados, não sendo capazes de se fundir.


Alguns alicates para enxertia vêm com um kit de lâminas com formatos diferentes. É possível ter uma certa variação no calibre do ramo da planta que será trabalhado com o alicate de enxertia se utilizarmos lâminas diferentes. As lâminas do kit geralmente são em V, em U e em ferradura (Ω invertido).


Sempre que usamos o alicate de enxertia (ou qualquer ferramenta de corte na horticultura), devemos higienizar a ferramenta para não correr o risco de contaminar as plantas com patógenos (fungos, bactérias e vírus). Para isso um paninho com álcool 70% e depois um óleo mineral já fazem o trabalho. Se a ferramenta for guardada suja, os açúcares que secaram na lâmina vão virar uma crosta. Neste caso a limpeza deverá ser feita com água, sabão e uma escova de dentes velha. Seque bem o alicate e lubrifique com óleo mineral.


Outra dica importante para o serviço: o alicate de enxertia deixa o trabalho prático, mas nem por isso faça a operação agachado(a) no jardim, de qualquer jeito. Enxertia exige atenção e cuidado. Faça o serviço em uma mesa, com todos os materiais que vai precisar. Assim seu trabalho será rápido, limpo e preciso, a fórmula para o maior sucesso de pegamento da enxertia.